(supostos) poemas de meia tigela para pessoas que sentem muito e tudo.

os temas são sempre os mesmos: um mergulho nas experiências da vida, a atomização da música e da sétima arte, o desejo pelo amor e outras histórias.

  • instrução de trabalho para arqueologia amorosa

    Revirar seu coração

    Como se faz com um quarto bagunçado

    Deparar-se nessa bagunça, em algum vão

    Com um pedaço de sentimento velho largado

    
    
    
    
    

    Analisar o artefato encontrado

    E entender a sensação que ele causa

    Assistir ele esfarelar em suas mãos

    Para, então, confirmar que tudo passa

  • camisa de saudade

    Visto uma camisa de saudade

    Toda vez que coloco aquela canção para tocar

    Ainda que o disco não esteja riscado

    Continuamente se repetem os versos que me fazem de ti recordar

    
    
    
    
    

    E lembro carinhosamente, com um som de pura ternura

    Torcendo para que de alguma forma você também se recorde

    Numa tarde qualquer, ou às 15h de um Sábado de Aleluia

    Da melodia estrondosa que se fez presente desde o primeiro beijo naquela rua escura

  • sobre escombros e paredes

    Inflamou a minha alma

    Me quebrou em pedaços

    Obliterou todas as partes

    Restando apenas estilhaços

    
    
    
    
    

    Se um dia já fui um todo

    Agora sou apenas um véu

    Uma fina camada de bloqueio

    Nada por ela penetra

    Nada me choca aqui no meio

  • eros

    Interessante tem sido escrever sobre o cotidiano

    O dia-a-dia urbano

    Um lado mais humano

    Mas algumas notas só tocam quando desabrocha algo em mim

    Algo acima do começo, meio e fim

    Aquilo que Platão chamou de Eros

    Talvez um dos sentimentos mais belos:

    Amor, enfim.

  • sessão de terapia

    Passear no parque a tarde

    Observar os animaizinhos

    Refletir sobre a vida e a verdade

    Fotografar lugares sozinho

    
    
    
    
    

    Ouvir boas canções

    Andar de bicicleta

    Visitar museus e construções

    Andar de pedalinho no lago até suar a testa

    
    
    
    
    

    Se exercitar a céu aberto

    Assistir a ensaios culturais

    Ir cedinho a feira livre aqui perto

    Observar o entorno sem se preocupar com o tempo, nada mais

  • mutante

    Muito do que sou, um dia já foi de outrem

    Um qualquer alguém

    Um agora ninguém

    Uma ideia, um fato

    Um conceito abstrato

    Não vejo problema em absorver coisas

    Não sou um ser do tipo inato

    Pela vida, estou sempre aberto a ser moldado

  • pontes da vida

    Tenta, tenta, tenta

    Mas nada o atinge

    O topo do morro já não mais brilha

    Menos ainda o vale abaixo o aflige

    
    
    
    
    

    Na ponte entre os dois lados

    Acima de onde corre o mar de amor

    Busca escolher a opção mais adequada:

    Retornar ao passado supostamente mais-que-perfeito?

    Avançar no futuro mais que incerto?

    Adentrar algum dos barcos passantes no presente?

    Ou apenas se jogar na correnteza do mar aberto?

  • domingo, 3 da tarde

    No espelho, um semblante triste

    De olhos fechados

    Fazendo carinho em mim

    Dando abraços apertados

    
    
    
    
    

    Tocou aquela da Clarice Falcão

    Enquanto o suor nos molhava

    Em meio aquilo tudo, mal senti calor

    As lágrimas nos sufocavam

    
    
    
    
    

    “Eu não sei dizer adeus”, ouvi

    E aquilo reverberou em mim

    Como é possível, diante de um sentimento mútuo

    Tudo chegar ao fim?

  • interior

    Aqui cantam os bem-te-vis

    E as crianças ficam com o pé vermelho

    De tanto brincar na rica lama de terra roxa

    Capaz de produzir pomares inteiros

    
    
    
    
    

    Uma grande bananeira

    Um belo limoeiro

    Um pezinho de laranja ao fundo

    Uma antiga goiabeira no canteiro

    
    
    
    
    

    Esse pedaço de terra fértil

    Capaz de tudo produzir

    Alimenta de nutrientes nosso corpo

    Mas também a alma na paz do existir

    
    
    
    
    

    A parafernalha da cidade grande

    Ainda que cativante

    Traz consigo um turbilhão de pensamentos

    Inigualável a calmaria aqui existente, graciosa e reinante

  • poeira torácica

    Os relâmpagos anunciam a tempestade

    A chuva se aproxima para lavar a cidade

    E levar embora toda a poeira

    Queria aqui dentro também chover-me

    E desempoeirar este coração aqui de bobeira

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