(supostos) poemas de meia tigela para pessoas que sentem muito e tudo.

os temas são sempre os mesmos: um mergulho nas experiências da vida, a atomização da música e da sétima arte, o desejo pelo amor e outras histórias.

  • palavras

    As palavras que me marcam

    São as mesmas que me faltam

    Que me fogem aos dedos e aos lábios

    E incandescem enquanto me apago

    
    
    
    
    

    E as palavras que me afogam

    São as mesmas que me afagam

    Na carícia das lágrimas que me lavam

    Escorrendo meu rosto em curvas de riacho

    
    
    
    
    

    Ah, as palavras…

  • saudações

    Talvez, um dia,

    a gente se encontre num buraco qualquer da cidade,

    se cumprimente

    e até troque algumas palavras como bons dois adultos.

    
    
    
    
    

    Em seguida, cada um vai seguir sua vida,

    voltando para sua realidade.

    E se ainda assim algum dos dois ousar olhar para trás,

    só verá os restos do que um dia foi voraz:

    verá apenas dois vultos.

  • desabafo qualquer

    Os dias se iniciam e findam sem que eu veja o sol no céu

    A engrenagem que roda a organização me necessita

    E por horas lá eu fico

    Me torno parte

    Deixo de ser pessoa, me torno unidade

    Parte de um processo ausente de inspirações e arte

    
    
    
    
    

    Até que me esgoto e não rendo

    De todo o meu entorno eu me desprendo

    E preciso encontrar um simples algo que me cause encanto

    Que me faça notar como é bonita a lua no céu, em algum canto

    E me deixe me sentir vivo, uma outra vez me sentir humano

  • carisma infinito

    Não sei se só quero ou se, de fato, preciso

    Mas acordei carente de algo específico:

    Uma longa conversa envolta por taças de vinho

    Teu olhar que atravessa minha pupila sem desvio

    Fazer um cafuné, abraços e carinhos

    Virar a noite adentro só brincando e rindo

    Até te ouvir dizer que seu superpoder seria o carisma infinito

    Enquanto o céu escuro se rasga em estrelas, e eu admiro aqui sozinho

  • Soneto do desinteresse (passageiro)

    Se notares algum desinteresse

    Peço, de coração: não leve a mal

    Hoje não me reconheço no tal

    Ardor de amor que não mais me apetece

    
    
    
    
    

    E as sete horas, logo após a aurora

    Minha alma deseja que morram todos

    Os que são amantes, poetas ou tolos

    Que sobre amor bradam mundo afora

    
    
    
    
    

    Mas se por ventura eu voltar a ser

    Uma outra vez sentimental e poeta

    Farei versos de amor sobre você

    
    
    
    
    

    Que a minha vida ainda não completa

    Mas que terá, se um dia aparecer

    Todo o meu coração de porta aberta

  • gélido interior

    Entre beijos e carinhos

    Longas conversas nos encontros me causam fascínio

    _____________Ainda assim,

    ______________ faz inverno dentro de mim

    
    
    
    
    

    Entre amigos e mesas de bares

    Copos de bebida aparecem aos pares

    _____________Ainda assim,

    ______________ faz inverno dentro de mim

    
    
    
    
    

    Entre o medo e os sustos com filmes de terror

    Meu corpo arrepia com momentos de horror

    _____________Ainda assim,

    ______________ faz inverno dentro de mim

    
    
    
    
    

    Entre letras profundas e ricos instrumentais

    Viajo pelas emoções das notas musicais

    _____________Ainda assim,

    ______________ faz inverno dentro de mim

    
    
    
    
    

    Entre os dias desde a sua partida, e o momento em que findou-se a dor

    Infinitas experiências já vivi com vigor

    _____________Ainda assim,

    ______________ sua ausência ecoa sem fim,

    _______________ e faz inverno dentro de mim

  • delírios de sábado a noite

    O quarto do poeta já não gera mais poemas

    A cama, outrora flamejante, agora é apenas uma câmara fria

    Preso a ela seu corpo se encontra

    Mas sua mente, ao longe, delira e delira

    
    
    
    
    

    E destes delírios nascem versos

    Vezes ricos, vezes pobres

    De toda forma rasgam-se os verbos

    Só assim ele sobrevive a morte

    
    
    
    
    

    E se a morte é o destino

    Uma nova rota ele busca até suas rimas

    Sua existência é em transição

    Estar em movimento é sua obra-prima

  • a dor se vai, os detalhes ficam

    Por mais um dia o sol nascerá antes do previsto,

    só não vai doer mais.

    Na cama, novamente o lençol azul estará estendido,

    só não vai doer mais.

    No café da tarde, outra saborosa torta de frango será o lanche servido,

    só não vai doer mais.

    Em mim, aquele musical vai continuar provocando risos,

    só não vai doer mais.

    Nas noites, o restaurante pequenininho da avenida Paraná permanecerá existindo,

    só não vai doer mais.

    Nas línguas, tal vinho intenso vai continuar aguçando todas as papilas gustativas com um sabor distinto,

    só não vai doer mais.

    Para a vida, as músicas da Marina vão continuar ressoando para o infinito,

    só não vai doer mais.

  • 24 horas (para lulu e mais uma de suas aventuras)

    Num dia singular, de forma inesperada

    Sequer notei que o ponteiro do relógio girava

    Ao meu lado estava

    Um homem de um lugar distante

    Que viu em mim coisas nunca vistas

    Narrou detalhes para além do meu semblante

    
    
    
    
    

    Por um instante, me fez sentir algo mágico

    Transformou em verdade a tal da paixão ideal

    De repente, como se nada fosse

    Tudo mudou no amanhecer da vida real

    
    
    
    
    

    E nessa manhã atual

    Mesmo que tudo aquilo nada signifique

    Ao passar por sua rua, admito

    Que saudades ainda sinto

    E no fundo do peito o desejo que fique

  • amor visceral

    Do amor, não quero tira-gostos

    Eu quero o prato principal

    Não quero pisar em qualquer terra seca

    Eu quero é afundar no lamaçal

    
    
    
    
    

    Se me ofereces um copo americano de pinga

    Saibas que aceito apenas a fermentação de um canavial

    Entendas, não quero saber de amor epidérmico

    Eu quero apenas o visceral!

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